"Não importa o que eu faço ou o que eu sei, mas sim quem eu sou." Rudolf Steiner

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Como aplicar conteúdos culturais e religiosos de forma viva e criativa


Workshop dado por mim no VII Congresso Iberoamericano de Pedagogia Curativa e Terapia Social em Equador, 2012

A questão em qualquer conteúdo que eu quero passar, na verdade é:
Como eu posso alcançar, tocar os meus alunos?
Como posso despertar o interesse deles realmente?
Como a aula, a época pode se tornar algo que alimenta corpo, alma e espírito dos meus alunos?
Para isto não existem receitas, nem manuais. Se eu quero uma receita que me diz exatamente o que deve ser trabalhado e de que forma, a aula fica teórica e morta. Para manter o conteúdo vivo, preciso criar um espaço para vivências, experiências e perguntas. Preciso criar a partir de mim, das minhas experiências, e a partir das necessidades que o grupo apresenta.
Portanto para preparar uma época, uma aula, uma palestra, preciso fazer a mim mesmo quatro perguntas:
1)   Qual é a essência, a idéia, o princípio maior deste conteúdo?
2)  Onde e em que formas este princípio se manifesta no mundo? Onde posso reconhecê-lo?
3)  De tudo isto que consigo encontrar, o que é que tem a ver comigo? O que me toca?
4)  A quem se dirige o conteúdo e quais necessidades apresenta este grupo?
A primeira coisa que preciso compreender é: qual é a essência do conteúdo, qual é o princípio que se manifesta através dele.
Inicia-se então, um trabalho de estudo, reflexão e meditação. O que eu sei sobre o assunto, o que a literatura aborda e o que consigo entender a partir disso? Através deste trabalho eu posso chegar em uma compreensão maior, reconhecer o princípio e encontrá-lo em suas inúmeras expressões. Não preciso mais me restringir aos símbolos antigos, já existentes, posso encontrar novos símbolos, novas imagens, novos gestos, novos jeitos, até posso inventar novas formas. Também não preciso me restringir a alguma filosofia ou ideologia, pois a essência dos conteúdos é maior do que um mero ponto de vista, ela é de natureza espiritual. No momento em que capto a essência, o princípio, eu posso começar criar e ousar.
Para a estruturação da aula eu uso algo que ressoa em mim, que já vive em mim, que me toca, que me entusiasma, algo que tem a ver comigo, pois só posso dar aos outros o que eu já tenho. Mas eu vejo também o que de tudo isso tem a ver com o grupo, o que se apresenta como necessidade, como pergunta do grupo. E dependendo das necessidades do grupo não muda apenas o tema, o conteúdo, mas também a maneira de abordagem; não só o O QUE, mas também o COMO. Normalmente tenho uma convivência com os meus alunos e por isso tenho uma noção do que eles precisam, quais são as questões, qual é o momento deles. Se eu tiver que dar aula para um grupo de desconhecidos, me oriento pelo próprio tema e procuro estar aberto ao que vem ao meu encontro durante a aula, a palestra, o curso. Se for necessário mudo o rumo no mesmo instante.
Eu procuro trazer algo que possa criar uma base para que os alunos encontrem respostas a partir de si. Imagens, que alimentam e enriquecem a alma, que promovem o desenvolvimento, sem querer estreitar ou doutrinar o seu pensar. A aula é boa, quando o aluno sai dela e se sente tocado de alguma forma.
Dizemos então que não existe receita, nem manual, mas podemos chegar numa metodologia a partir da compreensão do funcionamento do ser humano. Para poder alcançar, tocar o outro preciso saber como é que ele assimila, como é que se dá o processo da aprendizagem. Podemos estudar isto no livro “Arte da Educação I” (Allgemeine Menschenkunde, GA 293) de Rudolf Steiner. Compreendemos que existem 3 pontos básicos, que são importantes para uma boa aula:
1) O Encontro humano
2) O Movimento
3) O Ritmo

1) O Encontro humano
Precisamos nos perguntar, o que é que acontece quando duas pessoas se encontram?A resposta é, que uma atua sobre a outra, não teoricamente ou intelectualmente, mas sim de forma imediata com todo o seu ser.
 Atua com aquilo que é e não com aquilo que sabe!
Rudolf Steiner chamou isto de lei pedagógica:
“O membro superior do professor atua sobre o membro inferior mais próximo do aluno”
Para quem ainda não conhece o conceito sobre os membros ou corpos da entidade humana a partir do ponto de vista da Antroposofia, pode estudar sobre isto no livro Teosofia (GA 9) de Rudolf Steiner. Para nos basta saber neste momento, que a entidade humana tem 3 corpos que pertencem ao mundo sensorial: Corpo físico, corpo etérico e corpo astral; 3 almas com o Eu no seu centro e 3 corpos que pertencem ao mundo espiritual: Homem espírito, espírito vital e personalidade espiritual. O Homem Espírito, o Espírito Vital e a Personalidade Espiritual são membros que existem apenas em potencial, quais iremos elaborar e construir conscientemente. A Personalidade Espiritual já começamos a elaborar, mas ainda está muito no começo. Aos poucos podemos construir e acrescentar pequenos tijolinhos. Por isso vamos olhar a lei pedagógica a partir deste primeiro membro espiritual:
Da mesma forma como um atua sobre o outro, atua a personalidade espiritual sobre o nosso próprio Eu, o nosso Eu sobre o nosso próprio corpo astral, o nosso corpo astral sobre nosso próprio corpo etérico, o nosso corpo etérico sobre o nosso próprio corpo físico e conforme as afinidades do nosso corpo físico atraímos o nosso destino.     
Portanto a palavra chave é Auto-educação!
Como podemos ver este primeiro ponto da metodologia não se restringe a aula ou a profissão, ele diz a respeito do próprio professor ou terapeuta como pessoa, como instrumento para o desenvolvimento, como um ser a serviço de algo maior do que ele mesmo.
A questão agora é:
Como podemos trabalhar os nossos membros para nos tornar um bom instrumento?
 Como aplicamos isto na aula e na preparação da aula?

Personalidade Espiritual:
Este membro o ser humano ainda não assimilou, mas podemos ter impulsos através da fala, ligando-nos ao gênio da língua. Precisamos buscar uma fala gramaticamente correta, estruturada e clara, mas principalmente bonita, refinada e palavras bem pronunciadas. Precisamos criar consciência da importância da fala.
“Palavras modificam o mundo!”
Outra coisa que nos liga aos impulsos da personalidade espiritual é o desejo de fazer melhor. O exercício prático para isto é a retrospectiva à noite.
Eu:
O Eu atua quando agimos com consciência, de forma presente, sabendo dos verdadeiros motivos, desenvolvendo discernimento. Viver no aqui e agora. Buscamos desenvolver interesse para os outros e o mundo e entusiasmo para o conteúdo e a verdade. Precisamos amar os conteúdos, amar a verdade! Isto alcançamos através do estudo e da meditação, criando imagens e vivendo nelas.
“O meu entusiasmo emociona os alunos.”
Corpo Astral:
Neste membro preciso desenvolver flexibilidade em todos os âmbitos, positividade e equanimidade. Equanimidade através da controle dos pensamentos, sentimentos e atos. Positividade diante de solicitações anímicas. Flexibilidade na lida com situações ambíguas, na riqueza de gestos e mímicas e na capacidade motora e coordenação dos movimentos. Isto consigo através dos exercícios complementares, dados por Rudolf Steiner, outras práticas meditativas, exercícios físicos e artísticos. Além disso preciso buscar tudo que enriquece e alimenta a minha alma: conteúdos, histórias, imagens, músicas, pensamentos, trabalhos manuais...
Na aula não posso ser parcial com algum assunto, não posso querer doutrinar nem me fechar para alguma coisa. Preciso estar aberto para tudo o que se apresenta, deixar o conteúdo e as imagens atuarem. Preciso saber me isentar com a minha opinião particular e estar a serviço.
“Não importa que eu tenha uma opinião diferente da do outro, e sim que o outro venha a encontrar o certo a partir de si próprio, se eu contribuir um pouco para tal.”
Preciso ter abertura para não querer dar a aula exatamente assim como foi planejada, saber que posso mudar espontaneamente ou incluir algo se for necessário e construtivo. Ter a liberdade de não deixar tomar conta o que for destrutivo, dar limites. Buscar também as expressões adequadas através da mímica, de gestos e vivências.
Desta forma a aula será preenchida de sentido, de sentir (não sentimentalismo), de alma, podendo assim se tornar um alimento que vitaliza e vivifica os nossos alunos.


Corpo Etérico:
Precisamos buscar uma boa saúde através de bons hábitos, hábitos saudáveis e construtivos. Além disso, sempre promover o nosso humor, pois o humor está capaz de dissolver qualquer obstáculo.Buscar fluidez no pensar e no atuar, ter prontidão para conseguir lidar com situações inesperadas.
Para preparação da aula precisamos levar o conteúdo pra vida prática, torná-lo um hábito. Para a execução da aula precisamos buscar elementos que se repetem, ritmizar o conteúdo, transformar os elementos, buscar expressões diferentes do mesmo princípio, vivificar as imagens, fazer exercícios e dar tarefas. Também vou prestar muita atenção a beleza , harmonia e ordem do ambiente e dos materiais usados.
Desta forma a aula se tornará bem viva e nossos alunos terão a possibilidade de se apropriar do conteúdo, de interiorizá-lo. O conteúdo poderá se tornar parte da pessoa, atuar na vitalidade e assim criar, transFormar o corpo. O que vive na nossa vitalidade, no nosso dia a dia, transforma aos poucos o nosso corpo físico e nosso corpo físico se tornará o nosso destino.
“Ritmo cria corpo!”

“Perseverança é aprender,
aprender é praticar,
praticar é repetir,
repetir é ganhar experiência,
experiência é crise,
crise é prova,
prova é fortalecimento,
fortalecimento é liberdade,
liberdade é criar do nada,
criar do nada é transformar,
transformar é caminho e fim ao mesmo tempo.”

Corpo Físico
Para educar este membro preciso evitar ao máximo todo tipo de vício.
Em relação ao meu papel como professor ou terapeuta preciso desenvolver a devoção ao pequeno, buscar uma postura de observação segundo a fenomenologia goetheanística. Para quem gostaria de saber mais sobre esta fenomenologia sugiro o livro “Métodos científicos de Goethe” ( GA 2) de Rudolf Steiner


Destino
A aceitação consciente do próprio destino e o ato de carregá-lo amorosamente, se torna uma fonte curativa na nossa própria vida e na vida dos nossos alunos.

Para completar os pontos da metodologia falta falar sobre o movimento e o ritmo.
Em relação ao movimento precisamos tratar o caminho do amadurecimento do SNS e os sentidos. Os sentidos não vamos abordar aqui, pois são um capítulo  por si só. (Veja GA 293 Allgemeine Menschenkunde)
Como se dá, de forma regular, o amadurecimento do SNS na criança?
Observando o desenvolvimento do Bebê podemos notar que o caminho se dá de cima para baixo: olhar, segurar a cabeça, pegar, virar, sentar engatinhar, até que finalmente a criança se coloca em pé. Ela superou a gravidade e alcança com isto a primeira liberdade humana: ANDAR. A partir daí o caminho se dá de baixo para cima e passa por mais três barreiras. A primeira é a diafragma, onde todo movimento é ritmizada. Neste âmbito o ser humano alcança a liberdade de trabalhar, que é uma capacidade especificamente humana. A segunda barreira é a laringe, que estrutura os movimentos e nos possibilita a falar. A última barreira é o cérebro que reprime todo o movimento de um jeito que ele possa passar o limiar para o âmbito espiritual. O movimento se interioriza, é “virado de avesso” para assim dizer e se torna pensamento. Portanto podemos dizer que o movimento passa de âmbito pra âmbito, se transformando e finalmente acorda o pensamento, se transforma na capacidade de pensar.

A metodologia que resulta desta compreensão segue o mesmo princípio:
OBSERVAR > IMITAR/ FAZER > INTERIORIZAR/CONSCIENTIZAR
IMPULSIONAR (motricidade global): trabalhar a partir da imitação a postura e movimentos com os membros inferiores como andar, bater o pé, escrever com pé, pular, “falar” com os pés, dançar, trabalhar o sentido do movimento, do equilíbrio, térmico...
RITMIZAR (motricidade fina): trabalhar a partir da imitação movimentos com os membros superiores como todos os trabalhos manuais, bater palma, fazer gestos, trabalhar o sentido do tato ( por exemplo escrever as letras com o dedo nas costas do aluno, na sola dos pés, na palma das mãos...), térmico, do movimento...
ESTRUTURAR (motricidade refinada): desenvolver uma mímica rica, repetir, falar, cantar, observar imagens/objetos, ouvir, trabalhar o sentido do paladar, olfato, audição, visão, térmico, da palavra, do pensamento...
INTERIORIZAR (motricidade elevada): lembrar, formular perguntas, refletir, concluir, se posicionar, trabalhar os sentidos superiores...


Quando falamos de RITMO, falamos de processos no tempo!
Observando o mundo e o ser humano podemos encontrar os ritmos de dia e noite, das estações, dos marés, da semana,do mês, do ano, do acordar e dormir, da respiração, da digestão... Em todos estes ritmos podemos observar uma grande respiração, uma pulsação entre expansão e contração. O mais nítido são os ritmos de acordar e dormir, de inspirar e expirar. Podemos perceber uma diferenciação de consciência. Quando estamos acordados, estamos totalmente conscientes e quando dormimos estamos totalmente inconscientes. Entre estes dois estados existe uma passagem semiconsciente, que são os sonhos. O nosso espírito e nossa alma saem do corpo ao adormecer, se expandem. Nosso Eu ainda não tem força suficiente de acompanhar esta expansão de forma consciente e perdemos, portanto a consciência. Para estar consciente precisamos do nosso corpo, que nos ajuda a nos concentrar, acordamos. Acontece uma troca entre o mundo da noite, o mundo espiritual e o mundo do dia,  o mundo sensorial. Na respiração acontece algo semelhante, hora estamos mais concentrados dentro do nosso corpo, hora mais expandidos no mundo em volta. Temos aqui a troca com o social.
Temos então estados de:
Consciência                -  Semiconsciência  - Inconsciência
Vigília/concentração   - Sonho/passagem – Sono/expansão

E, mesmo no homem acordado, podemos observar estes três estados de consciência. Encontram-se presentes ao mesmo tempo no próprio corpo:
·        Na cabeça, onde se encontra o centro do Sistema Neuro Sensorial, estamos acordados, pensamos e observamos. É o sistema que carrega os sentidos, é a porta de entrada. Todos os conteúdos, ensinamentos e acontecimentos do mundo exterior entram por esta via.
·        Na região do tórax, onde se localiza a principal parte do nosso Sistema Rítmico, estamos semiconscientes. As nossas emoções o nosso sentir não está muito claro para nos, é como se estivéssemos sonhando. Precisamos preencher os conteúdos de emoção, de sentimento. Precisamos sentir o que foi captado via sistema nervoso. Precisamos emocionar, entusiasmar os nossos alunos, impregnar a respiração, tocar o coração. E desta forma os conteúdos podem ser levados para todo o corpo através da circulação, podem ser impressos no sistema metabólico motor.
·        Em nossos membros e na região do ventre, que carregam o nosso Sistema Metabólico Motor, estamos inconscientes, adormecidos. Nesta região esquecemos todos os conteúdos, aqui eles são digeridos, destruídos, desconstruídos para poderem ser incorporados. Se tornam parte de nos e retornam como capacidades práticas e sabedoria.
                                      
Em que resulta esta compreensão para nossa metodologia?
> A aula sempre precisa ter começo, meio e fim para garantir a continuidade:                       
Lembrar ou introduzir um assunto, acrescentar novidades e/ou praticar, conscientizar o que foi feito: retrospectiva e deixar adormecer, esquecer.
> Sempre precisa ter uma respiração, uma pulsação, precisamos trabalhar dinamicamente para poder atingir o sistema rítmico:
Fazer-observar, concentrar-expandir, atividade-pausa, silêncio-conversa, falar-escutar, observar-imitar, fazer-conscientizar, sorrir-chorar...
> Sempre quando for possível deixar a conclusão para o próximo dia. Assim aproveitamos a digestão da noite
> Fazer perguntas para promover uma interatividade e acessar o próprio conhecimento interior
> ter coragem para deixar espaços abertos, onde podem surgir coisas inesperadas
> trabalhar em épocas para aproveitar a digestão maior

Exercícios práticos para grupos de trabalho:
1) Decidir qual será o perfil das pessoas a quem se dirige o conteúdo.
2) Escolher um tema, um assunto: alguma época cristã ou um conteúdo cultural como Língua materna, Matemática, Química, Física, Antropologia, Zoologia, Geografia, Geologia, Biologia, História...
3) O que eu sei sobre este tema, o que eu encontro na literatura, qual será a sua essência, o princípio maior que se manifesta?                
àestudo, pesquisa, meditação, conversa
4) Como esta essência, este princípio se manifesta no mundo, onde e de que forma posso encontrar, reconhecer este princípio no mundo?
à Refletir, observar, brainstorming
à histórias, poemas, música, obra de arte, natureza, construções, civilizações, culturas, vida diária, social, religiões...
5) O que de tudo isso me toca, o que tem a ver comigo e o que os meus alunos precisam?
à Decidir quais conteúdos que vão ser usados: especificar o foco
6) Estruturar os conteúdos usando os elementos do movimento e do ritmo
à quantas aulas, dias, horas
à quais elementos
à ordem e forma
à objetivo
7) Finalizar e apresentar o resultado para os outros grupos

segunda-feira, 28 de maio de 2012

O Ser Humano se cria entre Paradoxos


“Só existe um templo no mundo, é o corpo  humano. Nada é mais sagrado que esta sublime forma. Inclinar-se perante um homem é prestar homenagem a esta revelação na carne. Tocamos o céu  ao apalpar um corpo humano.” Novalis
Este ditado de Novalis parece ser muito paradoxal. Como o corpo humano pode ser o único templo que existe no mundo? Não existem muitos templos, templos construídos pelo ser humano, onde podemos rezar e admirar a divindade? Porque não existe nada mais sagrado? O animal também tem um corpo. O que distingue o corpo animal do corpo humano? Porque o corpo é o mais sagrado? Como pode tocar o céu ao apalpar um corpo humano? Aparentemente os dois não têm nada em comum!
Se adotarmos o pensamento de Goethe , que o mundo físico manifesto é uma expressão do espírito, e que tudo que existe foi criado por seres espirituais, podemos dizer que o corpo humano também é uma expressão do espírito.
Se observarmos bem o corpo humano podemos ver que tudo que existe no mundo também existe no corpo humano. O ser humano é um microcosmo, igual ao macrocosmo, cada um representa uma totalidade. Podemos olhar o ser humano como uma imagem da trindade santa, constituído pelo corpo, alma e espírito, com o Eu no seu centro, a centelha divina que cria a integridade deste ser.
O ser humano como todo é um ser trimembrado. Esta trimembração pode-se observar em todas as partes. No corpo manifesto, na alma e no corpo espiritual. A corporalidade é penetrada pela alma, que tem o Eu como cerne, qual se compenetra com o espírito: com o Bem, o Belo e o Verdadeiro.
A corporalidade em si,destingue-se em corpo físico, corpo etérico e corpo astral . O corpo físico é o mais antigo e o mais aprimorado, ele corresponde ao reino mineral, onde rege o princípio da forma. Esse reino, que é o mais físico, o mais material, o mais morto, está ligado a mais elevada hierarquia, à hierarquia de Deus Pai, a primeira hierarquia, a vontade cósmica. O corpo etérico foi criado depois. Ele é menos aprimorado do que o corpo físico e corresponde ao reino vegetal, onde rege o princípio da vida, do fluxo, do ritmo, do funcionamento, do crescimento e da reprodução. Este reino está ligado à segunda hierarquia, a hierarquia de Deus filho, a sabedoria cósmica. O corpo astral é o menos aprimorado, o mais novo dos três. Ele corresponde ao reino animal, onde rege como princípio o movimento e a criação de um espaço interno. O reino animal está ligado à terceira hierarquia, a hierarquia do Espírito Santo, a harmonia cósmica, a hierarquia menos elevada das três.
A maior novidade foi introduzida na Terra: o mais recente, o menos aprimorado, o Eu. Este Eu não se encontra em nenhum reino, apenas no ser humano e no mundo espiritual. É ligado ao ser supremo da segunda hierarquia, ao Eu cósmico, o Cristo. É a nossa parte mais espiritual, a centelha divina. Para poder se tornar um ser consciente é necessário estar encarnado no mundo manifesto, na matéria, é necessária uma corporalidade física. Através da atividade do Eu consciente o ser humano pode transformar seu corpo material em uma corporalidade espiritual e pode também transformar o mundo manifesto. Nesta atividade a individualidade se cria, se torna cocriadora.
Se acompanharmos bem o que foi dito até agora podemos observar vários contradições. O Eu, cuja origem é espiritual necessita de uma corporalidade material para poder se desenvolver e tornar-se novamente um ser espiritual consciente. O corpo físico, o mais material, porém o mais aprimorado, ligado à hierarquia mais espiritual. O corpo astral, o menos aprimorado dos três, ligado ao reino animal, é o mais perto do reino humano e muito mais complexo e diferenciado do que os outros dois. Lidamos o tempo todo com opostos. Podemos observar que o Eu se cria dentro de paradoxos. Achamos estes aspectos paradoxais em todos os níveis. Mas hoje gostaria me restringir em três aspectos:
- A estrutura do corpo (forma)
- O funcionamento (sistema neurológico)
- Capacidades Anímicas (pensar, sentir, querer)

A estrutura do corpo
Olhando para a forma, o esqueleto, mostra-se que é feito de retas e curvas. A cabeça é principalmente redonda, esférica, convexa. Os membros são principalmente retos e o tronco une os dois princípios, criando algo novo.
A cabeça é formada pelo crânio, estrutura óssea, a mais dura que temos, protegendo e limitando tudo que tem dentro dele. Existem várias aberturas por onde os estímulos sensoriais podem entrar. Existe um movimento de fora para dentro. O centro da cabeça é o cérebro, que também é o centro do sistema neurosensorial. É muito compacto, muito material, é, juntamente aos ossos, o mais morto e o mais frio que o ser humano tem. Nesta região encontram se as articulações fixas, tudo é muito parado, muito devagar. Mas é justamente o instrumento principal do pensar, onde lidamos com o imponderável, com o imaterial, com as idéias. O pensamento tem a qualidade do raio, da luz, se move reto, se expande, é rápido e o espaço e tempo perdem a sua importância.
Os membros inferiores e a região do abdômen, que carregam o sistema metabólico-motor, tem como princípio a reta e o espaço aberto em forma de côncavo. O osso principal do abdômen, a bacia, é um grande côncavo aberto, espelhando a cabeça. Ele recebe e sustenta os órgãos vitais e reprodutivos. Nos membros inferiores os ossos são retos e internos, envolvidos pelos músculos. Eles sustentam o corpo, mas com suas articulações possibilitam o movimento. Este movimento gera calor, o calor irradia, pulsa e se expande de forma circular. Os membros e o abdômen são as partes mais moles e mais quentes do corpo. No abdômen acontecem os processos vitais, aqui rege a vida, porém, é justamente onde a matéria morre. Ela é destruída e transformada em energia. Nesta região o mais vivo lida com as forças da morte, que espiritualizam a matéria e o mais morto gera a vida, como mostra o fato do sangue ser produzido justamente nos ossos dos membros.
O tórax e os membros superiores unem, como parte do meio, a reta e a curva em si. A curva encontramos na caixa torácica, formada pelas costelas e escápulas, mais fechado na parte superior e abrindo cada vez mais para baixo. A reta encontramos nos membros superiores e na coluna vista de frente. Olhando o perfil, a coluna é curvada, forma um S comprido, quase a metade de uma leminiscata. A mesma forma achamos na clavícula. A caixa torácica protege o que tem dentro, mas também possibilita o movimento de expansão e contração. Os membros superiores possibilitam a troca com o mundo, eles podem tanto dar, quanto receber. Nesta região encontra-se o sistema rítmico, formado pela respiração e circulação, que aquecem e alimentam toda corporalidade. O seu centro é o coração onde acontece a morte e a vida na sístole e diástole, movimentos de concentração e expansão máxima. Existe também um momento de repouso total entre cada movimento, tanto no coração quanto na respiração. A respiração possibilita a troca entre o mundo externo e interno. Também é um movimento de expansão e concentração. Quando o ar se concentra no pulmão, a caixa torácica se expande ao máximo. Quando a caixa torácica se contrai, o ar se expande no mundo. Este mesmo movimento acontece no nível do sentimento. A parte mais sutil se concentra quando a parte mais material se expande e vice versa.  Este movimento inclui a troca social na esfera horizontal e a troca com o divino na esfera vertical.


O funcionamento

Observando os três sistemas principais, podemos notar que o sistema neurosensorial encontra-se principalmente na periferia do corpo, o sistema metabólico-motor se encontra principalmente no centro da corporalidade e o sistema rítmico com seu centro no tórax pulsa pelo corpo inteiro, unindo e intermediando entre os outros dois. O órgão principal do sistema neurosensorial são os nervos que se espalham em toda a superfície, na endoderme e ectoderma de todas as partes do corpo físico. O cérebro representa o centro deste sistema. O movimento é de fora para dentro, o princípio é de síntese, de concentração. O sistema neurosensorial é a base física para os sentidos e para o pensar. Por ser um espaço com ausência de vida, cria-se a possibilidade do mundo penetrar na nossa corporalidade, ou para ser mais exata, a parte anímico-espiritual do mundo penetra através dos sentidos e é conduzido pelos nervos. Os nervos são transparentes para o anímico-espiritual, como o vidro é transparente para a luz. Temos percepções do mundo e da nossa própria corporalidade, que faz parte do mundo externo. Assim o ser humano alcança consciência do mundo e de si mesmo.
O sistema metabólico-motor encontra-se principalmente no interior do corpo. São os órgãos vitais, os músculos, o sangue. É um espaço preenchido de vida, onde o anímico espiritual é absorvido, como a cor preto absorve a luz. O princípio é de análise, o movimento de dentro para fora. Os membros se dirigem para fora, se dirigem ao mundo. A parte mais viva leva o mundo à morte e transforma-o em energia, que agora se direciona para o mundo em forma de calor, de vontade. É um movimento de expansão e de espiritualização, o espírito que estava preso na matéria é liberado.
O sistema rítmico faz tanto o movimento de concentração, quanto o movimento de expansão. Ele recebe o mundo de fora, transforma-o em mundo próprio e devolve-o para o mundo externo. Isto acontece em todos os níveis. Ele faz a vontade e as idéias se encontrarem, une-as para que se tornem ações e realizações no mundo.

Capacidades Anímicas
Pensar, sentir e querer são as capacidades anímicas do ser humano. Pelo pensar ele adquire consciência. Ele sabe que é, mas ele não é! O pensar vem do passado, só conseguimos pensar que já existe, que já se concretizou. No pensamento espelha-se tudo que o ser humano conseguiu trazer a consciência pela concentração do ser, mas são imagens de coisas reais que já passaram, é como olhar a imagem de um espelho. O ser humano se afasta do mundo real e se concentra em si mesmo. É um movimento de antipatia. Eu me encontro no meu centro, olhando a partir de um único ponto de vista.
Pela vontade, pelo querer o ser humano se une ao mundo. É um movimento de simpatia. Ele se expande, se torna o próprio mundo, o qual está vindo do futuro ao seu encontro em forma de intuições. Infelizmente se perde nisso. Ele é, mas não tem consciência disso! Fica tão expandido, que vive muitos pontos de vista.
No sentir o ser humano é movido pelo o que lhe atrai e o que lhe afasta. É um movimento de simpatia e antipatia. Ele sente, ele sonha que é! O sentimento é um pensamento ainda não esclarecido e/ou uma vontade ainda não realizada. É semi-consciente. No momento em que o ser humano consegue ligar o passado e o futuro, ele conquista o presente. Ele adquira a possibilidade de se realizar, superando simpatia e antipatia, e usando os sentimentos como um órgão de percepção. É a real possibilidade de pegar a sua vida nas próprias mãos.

Considerações Finais
O paradoxo somente existe quando restringimos o nosso pensar ao mundo físico. Ampliando o pensamento, incluindo o mundo anímico-espiritual, as contradições se dissolvem. Descobrimos que na verdade todos os opostos têm a mesma origem, apenas se manifestam de modo oposto no mundo físico, sofrem uma separação, uma concentração para poder se materializar. Por ter a origem em comum um oposto sempre depende do outro, um não pode existir sem o outro e um belo dia novamente irão se unir. São os dois lados da mesma moeda. Como o ser humano é uma manifestação da totalidade, ele une todos os opostos em si. O ser humano é o mais complexo e o mais sagrado no mundo. É o maior paradoxo! Se compreendermos o ser humano, compreenderemos o cosmos e vice versa.
Voltando agora para as questões do começo, podemos dizer que:
Sim, o corpo humano é o único verdadeiro templo no mundo, é o mais sagrado. Nele se manifesta o espírito, é a casa sagrada do espírito, tudo se une nele. Quem se inclina diante do Homem e serve a ele, se inclina e serve a Divindade. E quem apalpa um corpo realmente toca o céu, pois o céu se manifesta nele.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O Trabalho em Oficinas Terapêuticas

O que é o trabalho? O que é ser doente? Ou como posso entender o destino humano?

Todo trabalho em oficinas abrigadas ou assistidas é realizado com as mãos. Todos os seres têm a necessidade de se realizar através do trabalho. É esta a forma do homem se colocar no mundo, e com o deficiente acontece a mesma coisa. Ele tem a tendência, pela sua própria dificuldade, de 'sempre ganhar tudo, de existir como ser passivo em relação ao fazer; neste trabalho o enfoque está na troca: ele dá, ele ganha; se relaciona através do trabalho.
Como o doente vive predominantemente no presente devemos ficar atento com a qualidade do trabalho e para a honestidade da atuação terapêutica. Surge a partir disso uma pergunta: "O que educa o ser humano para ser humano?". Em primeiro lugar parece ser o ser do educador ou do terapeuta. Se considerarmos como verdade que o trabalho funciona através da revelação; o cuidado com os pensamentos, sentimentos, com as atitudes é fundamental. Estar dentro e atento ao ritmo, repetição, sem esperar nada em troca, mas tendo muita esperança; pensar em imagens e confiar sempre que esse é a base do pensar futuro. Ter internamente uma imagem do ser humano, para que ela possa servir de 'exemplo: tudo isso é cultivar o humano dentro do trabalho.
No inicio do desenvolvimento a criança se coloca no mundo na dimensão. espacial: e somente depois no temporal, porque é esta que leva ao plano espiritual. O EU funciona nesta dimensão. É ela que me coloca como homem entre o CÉU e a TERRA, o deficiente, como a criança antes dos 3 anos, não tem essa relação temporal estabelecida; de forma genérica não toma posse do EU inteiramente e sua atuação não é de dentro para fora e sim o contrário, por isso a necessidade incansável de ritmo e repetição. O EU do paciente está no outro; por isso a estruturação vem toda de fora e o
trabalho funciona a partir da revelação.
Tomar posse do EU significa tomar posse da corporalidade (da cabeça aos pés) e atuar no mundo (do coração às mãos) com confiança porque se entende e realiza-se ativamente as leis do destino. Nesse sentido o trabalho do terapeuta é visto em co-autoria com o destino porque me pergunto sempre como posso ajudar o outro em sua evolução. Com as ações que os
pacientes sempre são levados a realizar, existe a possibilidade de entrelaçar uma vida com a outra, de humanizar o trabalho. A chave dessa humanização é o MOVIMENTO: motricidade ou mobilidade dos membros; ritmos internos (respiração e pulsação) e o repouso da cabeça.
Metodologicamente sempre se percorre esse caminho: motricidade grossa das pernas e braços; motricidade fina das mãos; motricidade da boca que se junta com conclusões e idéias (sempre acontecem por último e são acompanhadas de movimento).
Outra forma de se dizer da humanização é percorrer o caminho do FOGO: metabólico, Pai; CALOR: ritmo, Filho; LUZ: pensar, Sofia.
Em cada oficina aproveita-se de forma inequívoca todos os movimentos que a própria oficina oferece. Na tecelagem existe a possibilidade de trabalhar a confiança (sempre através do movimento) na fiação; trabalhar o estar no mundo e a ligação com o espiritual através dos movimentos do tecer. Na marcenaria segue-se a direção do veio da madeira, os movimentos são ordenados nesta direção, obedecendo à forma do material. Na oficina de metal a transformação se dá pelo calor, o metal chega sem forma e o trabalho é criar formas novas.
Para que se possa atuar terapeuticamente é preciso entender as leis que determinam o destino humano. E foi somente no começo desse século que o homem passa a ter a dignidade de atuar nesse campo. E para isso é preciso desenvolver uma imagem profunda do homem.

Uma estrela de 5 pontas no centro, em volta dela uma estrela de 6 pontas formada por dois triângulos que se encaixam, e em volta de tudo um grande círculo e um ponto no centro de tudo.

Esta imagem abarca o ser completo, em seu fluxo de vida (na estrela de 5 pontas), em seu processo encamatório (na estrela de 6 pontas), e na sua relação com o cosmos (na polaridade ponto e periferia). Podemos usar essa imagem como meditação e preenchê-Ia com abundancia de idéias.
Através da estrela de 5 pontas vemos o homem que foi plasmado em sua forma a partir da forma do universo. Através da estrela de 6 pontas aprendemos a ver o homem bimembrado. Uma parte superior (anímica, espiritual) e uma parte inferior (vital, que é trazido da linha da hereditariedade) . No processo encarnatório essas 2 partes se interpenetram. O ser humano, portanto é resultado dessa interação do instrumento corpóreo e da individualidade que assume esse corpo. Esse encaixe é muito flexível, se movimenta num ritmo mais amplo quando se aproxima da esfera do nascimento e se afasta na morte. Existe também um ritmo mais sutil se interpenetrando na inspiração e se afastando na expiração.
A forma como se dá essa interpenetração determina a tipologia da doença ou apenas sua tendência. Sob esse ponto de vista a saúde é definida como um tênue equilíbrio entre doença e doença. Saúde, portanto tem que ser conquistado a cada momento na interpenetração das 2 partes.
Através do circulo que tudo envolve temos a relação do macro com o micro cosmos. Podemos perceber que na dimensão do movimento (confluência do espaço-tempo) reside a possibilidade de cura. A capacidade motora se transforma em fé, em impulso religioso. De uma ação, baseada num gesto interior do terapeuta, revelado para o paciente pode surgir uma luz. O impulso religioso pode também se traduzir em que cada passo dado no sentido do conhecimento do outro, dá-se 3 passos no sentido da moralidade, do amor. Em outras palavras o terapeuta deve se colocar como um servidor.
Com suas qualidades ele atua uma lei pedagógica: "Com o membro mais elevado atua sobre o membro menos elevado do outro". Com o seu interesse, compreensão e compaixão o astral do terapeuta vivifica o etérico
do paciente. Através da devoção cria-se entusiasmo pela verdade espiritual e nesta atitude forma-se um cálice para a religiosidade, para a moralidade, edificando o astral do paciente. Quando se busca no uso da linguagem articulada, a palavra usada da forma correta; na euritmia (fala+gesto), um contato com os seres que habitam essa esfera o terapeuta passa a desenvolver a personalidade espiritual que atua formando o EU do paciente.O humor relacionado com os líquidos (portanto encontrado no etérico do terapeuta) atua no físico do paciente porque dissolve o peso de chumbo da matéria, suavizando a existência. Tanto o riso quanto o choro trabalham a respiração e dilatam o coração.
Esta é outra forma de realçar que o terapeuta, é instrumento de cura, que pode levar confiança na encarnação, tomando-se um cálice sempre pronto a transbordar para o outro, buscando as fontes de cada urna dessas qualidades. Ser instrumento é deixar perpassar, ser transparente, beber na fonte da ABUNDÂNCIA, vivenciando que a providencia divina sempre conspira a nosso favor. O nosso trabalho é se fazer caminho para essas realizações.
Essas questões e idéias e vivências levantadas até aqui norteiam o trabalho do pedagogo curativo, ou do terapeuta social; há ainda um trabalho que pode ser feito individualmente. Para isso pode-se usar massagens, escalda-pés, banho de acento, desenho de formas, trabalho religioso com as Madonas, reorganização neurológica e banhos em geral. Todos esses trabalhos visam a fortalecer a tomada de posse do EU para toda a corporalidade. As massagens podem ser relaxantes ou estimulantes, desintoxicantes ou anabo lizantes dependendo da direção dos movimentos e do óleo usado. O escalda-pé quente traz calor, consciência para os pés. O frio pode ser usado em casos de hipercinesias. Pode ser usado o sal (purifica) ou o gengibre (estimulante metabólico). O banho de acento com água fria faz baixar a força do metabólico, desestimulando a sexualidade e o erotismo. O desenho de formas estrutura e para cada temperamento ou patologia existe um trabalho mais indicado. O trabalho com as Madonas traz a devoção, a vivencia da sabedoria, amor e justiça. A reorganização neurológica traz a possibilidade de recapitular e atualizar o desenvolvimento motor. As aplicações externas e os banhos atuam sobre a pele, um reflexo do EU. São todas medidas que ajudam a harmonizar, a trazer higiene fisica e anímica para que possamos existir dignamente entre o CÉU e a TERRA.

                                              Angela Quinto, Abril 95

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Ampliação e Aprofundamento da consciência e a sua relação com medo e violência


Relato sobre um grupo de trabalho do Congresso Internacional de Educação Terapêutica (Pedagogia Curativa ) e Terapia Social em Dornach, Dia 4 a 8 de outubro de 2010, Heiner Priess

05/10/2010
Observação como base para a ampliação da consciência

Existem 2 caminhos: para fora e para dentro!

Para fora:

1º passo- Observação(forma/aparência)

Devemos observar o atendido enquanto ele não está presente, ou seja, criar uma imagem da pessoa com todos os detalhes. Tudo que não conseguímos lembrar, saltará a nossa vista no próximo encontro.
[foi feito um exercício de observação: observar um retrato durante 2 minutos, fechar os olhos, reconstruir o retrato internamente e depois olhar de novo]
Observar é um ato antipático, me distancio. Quanto estou junto com o atndido é melhor estar no mesmo patamar, estar junto com ele, junto mesmo!

2º passo- Julgamento(comportamento)

O julgamento tem a ver com a antipatia ou a simpatia que sentimos. Não precisamos negar o julgamento, mas temos que ter consciência que estamos julgando: Investigar os julgamentos, mantê-los flexíveis, não deixar endurecer. Quando a vida anímica fica endurecida, tornamo-nos depressivos.
Temos que ter consciência, que os julgamentos são injustos, pois na maioria das vezes estamos falando de nós mesmos, sobre aquilo que sentimos:
" O atendido sempre quebra tudo, isto tortura os outros!"
Para manter estes julgamentos flexíveis e não cair na injustiça, podemos nos perguntar: Onde e quando teve momentos em quais isto era diferente?

3º passo- o encontro ( empatia)

O que esta pessoa queria dizer ( iria querer dizer) ?:
"Parece que ela quer dizer....."
Pode ser uma exclamação ou uma pergunta:
Que pergunta tem esta pessoa?
[foi feito um exercício de observação:observar novamente o retrato para descobrir o que a pessoa poderia dizer]


Recapitulando:

1º Observação
2º Julgamento
3º Encontro

O importante é que, observo com a intenção de encontrar o outro, o novo, o desconhecido, e não para me auto-afirmar
> Postura de admiração, de não saber, de devoção


Para dentro:


[ foi feito um exercício de observação, tarefa: resolva seguinte problema, na cabeça, com mais itens possíveis depois da virgula: 8:7.Observa todos os passos que tem que fazer para conseguir isto.]

> Passos:
- fechar os olhos ( a maioria das pessoas)
- entrar em estado de calma interior
- abrir um espaço e excluir tudo que atrapalha
- imaginar os números
- criar uma imagem, cor contraste,etc...imaginamos os números não o
fundo, o fundo é espiritual
- o número não só tem uma forma, mas tem também um valor, para poder
fazer a conta eu preciso o valor.
> Problema:
- lembrar os números, preciso deixar tudo, totalmente embora para poder
criar novas representações, não posso segurar e criar simultaneamente,
segurar o resultado e continuar fazer a conta. Preciso esquecer o
resultado, fazer mais um pedaço da conta e relembrar o resultado
novamente...

Normalmente não temos consciência sobre este processo, portanto aplicamos um método que, revela o oculto, acorda o adormecido, que faz visível o que a gente não vê.

[foi dado um exercício como lição de casa: Primeiro de imaginar que sou uma criança bem pequena. Me perdi em um grande mercado, perdi os meus pais, estou no meu de uma multidão, sozinha. Segundo de imaginar que tenho um Bebê que não para de chorar, está chorando já faz 4 horas]

06/10/2010

Tarefa de casa:
1º Estar perdido- Tudo se perde, sensação de morrer afogado em um grande mar.
> O eu está sendo olhado para dentro do corpo. O eu se interessa pelo corpo
porque os outros olham para ele.
> medo da morte, perda da existência

2º O Bebê que chora- chorar é uma expressão da vontade, eu estou aqui, eu choro/grito e nada além existe. É igual a vivência do parto, do nascimento. A vontade gigantesca e com isto o desamparo, o desespero dos pais cresce. Os pais estão sendo ameaçadas pela vontade gigantesca e também começam gritar e podem até explodir. No momento que alguém me ameaça, me fere, me provoca, eu me mostro imediatamente. Um método rápido, mas pouco adequado, de conhecer alguém, é de dar uma bofetada no rosto da pessoa. Isto pode representar uma tentativa de estabelecer um contato de forma muito desajeitada.
> Medo e violência é um patamar de vivência onde algo realmente acontece,
ali eu sou, ali eu me sinto. Exemplo: Hooligans- Policiais
> Destruição também tem um lado bom: conseguimos uma vista mais livre!
>Como o gigante: vontade, consegue entrar no anão: corpo, para baixo do
diafragma? O mundo se divide em exterior e interior e uma parte mergulha na
inconsciência.

O atendido me leva ao meu limar, aos meus limites!
Que bom, pois eu queria conhecer os meus limites! >>> Auto- conhecimento!
Preciso para isto também querer conhecer o outro, me interessar pelo outro, ter abertura para ele.
> Em quais situações vem quais expressões?
> Em uma vida anímica não desenvolvida encontramos nós, apesar da idade avançada, no 1º setênio. Portanto, a consistência vem de fora, é a periferia que carrega!

[Exercício de observação para fora: Observar um quadro e imaginar de forma mais viva e detalhada possível, se baseando na observação:
1) Onde a pessoa da imagem se encontra concretamente, o que está acontecendo?
2) O que aconteceu antes?
3) O que ela irá fazer no próximo momento?]

[Exercício de observação para dentro: Imaginar um grande cubo d vidro, entrar neste cubo e fixar um gancho no centro de cada lado do cubo. Amarrar um barbante em cada gancho, interligando todos os ganchos, ou seja, de cada gancho irão sair 5 fios.Agora sair do cubo e olhar a construção do lado de fora. Que forma se apresenta?]

Octaedro= 8 lados triangulares do mesmo tamanho


07/10/2010

Limites para dentro e para fora: Os limiares da consciência

A vida anímica, dos sentimentos, representa um limiar entre a consciência (vigília) e a inconsciência ( estado de "sono"); o limiar para o mundo espiritual.

" A pedagogia Waldorf não dá respostas para que a gente goste ou não goste de uma criança e como enquadrar isto. Ela é a arte de desvendar o que existe no ser!" Rudolf Steiner

" No caso de problemas no desenvolvimento ou de deficiência, encontro uma pessoa que tem a coragem de se confrontar individualmente com dificuldades que me assustam, que me causam medo!" Heiner Priess

Existe um abismo, um limiar que nós não conseguimos atravessar, porque nos falta a coragem.
> Eu te procuro, mas você é invisível, apesar disto eu consigo te vivenciar. Eu te olho de dentro, através da pupila, ela é um buraco, um espaço interno.
Podemos procurar o ser através do olhar! Isto tem a qualidade dos Arcanjos!
Como é o olhar d uma pessoa?
O que está 'por de trás' de uma pessoa, como também aquilo que está 'por de trás' das estrelas, é invisível!
Imagem: O céu estrelado como uma peneira invertida/ inversa!

Imagem

Temos dois limiares, um é a periferia sensorial e o outro é o diafragma, um para fora e um para dentro.
De fora atuam forças do mundo, nestas vive o eu adormecido, criando uma relação mágica com as forças do mundo. A partir dessas forças recebemos estímulos sensoriais que nos acordam, estas precisamos acalmar (cessar) para poder transformá-los em percepções e representações mentais. Se não consigo acalmar os estímulos, não chego a ter percepções. Está faltando o meio ( sistema rítmica)!
> O que nós aprendemos, precisamos esquecer para poder estar livres na atuação, e poder acordá-lo, recordá-lo no momento certo.
> Quando as forças invadem a consciência, geram o medo!
De dentro atuam as forças individuais que também são inconscientes. Eles vivem de baixo do diafragma. O diafragma é uma pele prateada, funciona como um espelho, criando um limiar. Quando estas forças individuais invadem a consciência, geram violência.
O que vem de fora, vai impregnando o contesto orgânico em baixo do diafragma, criando um cunho, um carimbo orgânico. A partir da metade da vida, quando os orgãos começam se diluir, se desfazer, podem aparecer coisas que se impregnaram na infância. Mas a vida toda stas impregnações, carimbos orgânicos atuam a partir da inconsciência e se expressam como projeções. Por isso um grupo de pessoas, uma equipe, sempre precisa realizar um trabalho de conscientização ou/e d supervisão.
Todas as projeções que não conseguem ser digeridas, trabalhadas pela própria pessoa ou amparadas pelo grupo, aquilo que não aguento, do que não dou conta, podem nos enlouquecer, piramos. Ou então tentamos nos anestesiar, com álcool, drogas, compras, entretenimento...
Algo está ruindo dentro de mim, que não consigo amparar, não consigo trabalhar.>Falta o meio (sistema rítmica)!
Para trabalhar a mim mesmo, preciso fazer os três passos além do limiar interno:
Autoconhecimento
Autoeducação
Autodeterminação
> A única coisa que é interessante para o nosso atendido é, o que nós fizermos de nós mesmos a partir do esforço próprio.
Portanto precisamos aprender com os erros, amadurecer pela dor e crescer pelos dificuldades e impedimentos.


Para poder ajudar o atendido precisamos observá-lo, é ele que vai nos dizer o que ele precisa. Fazemos uma conferência terapêutica. Onde isto é difícil ou tem poucas pessoas, podemos experimentar um método diferente, que pode ser feito por 3 pessoas e em 20 minutos.

A 1ª pessoa descreve o atendido para a segunda pessoa, o mais vivo possível,até que a segunda pessoa consegue criar uma imagem do atendido.
A 2ª pessoa dá um retorno d como ficou a imagem e pode fazer perguntas para confirmar a imagem criada ou para corrigir se for necessário.
A 3ª pessoa só observa o processo calado, mas com o máximo de atenção.

Na semana seguinte muda-se os papeis, mas observando o mesmo atendido, e depois muda-se os papeis mais uma vez. Assim cada um experimenta cada posição uma vez. Isto possibilita de aprender pelo fazer e recebe-se uma imagem em comum do atendido.

Depois Heiner Priess trouxe ainda o processo da percepção do outro Eu
(sentido do eu alheio), que Rudolf Steiner descreve na Antropologia Geral
(Arte da Educação I).

> O que eu tenho em mim, que posso dar de presente, o que tenho em abundância?
>O artístico acontece na própria vida anímica.